A sempre corajosa, destemida e curiosa Heloisa de Carvalho, filha primogênita do guru Olavo de Carvalho, esteve hoje na frente do imóvel do advogado Frederick Wassef, defensor da família Bolsonaro. Heloisa já esteve perto desse imóvel quando ele abrigou o ex-faz-tudo do ex-presidente: Fabrício Queiroz. As informações foram dadas com exclusividade à Folha Democrata.
Heloisa diz que Wassef trocou o portão de madeira vazada por um de ferro fechado. Tem algo sendo escondido? Fora a mudança ao redor, um carro estava estacionado na frente. Mas não era da polícia.
A última notícia sobre Fred Wassef envolve investigações.
Em dezembro de 2023, a operação da Polícia Federal teria descoberto a partir de depoimento do advogado Frederick Wassef que o relógio Rolex, vendido e recomprado por associados do ex-presidente Jair Bolsonaro, passou pelo imóvel de Atibaia onde Wassef escondeu Fabrício Queiroz, pivô do esquema das rachadinhas do gabinete de Flávio Bolsonaro (PL).
Heloisa sabia de algo estranho no imóvel de Wassef antes de todo mundo
Um ano antes de Queiroz ser encontrado pela polícia e ser preso, Heloisa de Carvalho viu as movimentações estranhas em Atibaia e tentou avisar todos os jornalistas que conseguiu.
Quem relatou isso foi o jornalista Denis Russo Burgierman na Revista Época, que foi descontinuada, em 20 de junho de 2020:
Eram 4 da manhã do dia 17 de maio de 2019 e eu estava fritando na cama do beliche, com insônia. Meus olhos tinham aberto de repente, e fui invadido pela angústia com o futuro do meu país. E meus filhos tão longe. Eu estava viajando sozinho, na cidade com maior concentração de consoantes que já conheci: Ljubljana, na Eslovênia, onde fui participar de um evento sobre desinformação e o futuro do jornalismo.
O evento era interessante, mas na verdade a viagem tinha um pouco de fuga: eu tinha sido acometido por uma crise de ansiedade e um desejo enorme de estar longe do Brasil por uns tempos. Em parte, isso era reflexo da situação política, com Bolsonaro presidente e o estado de crise permanente já instaurado.
Mas, para mim, havia um elemento extra: um mês antes o escritor Olavo de Carvalho havia publicado uma foto da minha casa e incitado seus seguidores a virem aqui “averiguar se o difamador profissional Denis Russo Burgierman ainda mora nesse endereço”. Eu tinha passado meses acompanhando Olavo intensamente nas redes e assistindo a suas aulas online, por causa de uma reportagem de capa que escrevi aqui para esta Época . A experiência me afetou mais do que eu imaginava: depois de meses convivendo naquele ambiente paranóico, comecei a me sentir paranóico também. Achei que ia ser bom viajar e me desconectar um pouquinho.
“Trrr”, vibrou meu celular, me dando a desculpa que eu precisava para pegá-lo no criado mudo e iluminar o quarto do albergue. A mensagem apareceu no Whatsapp, em letras todas minúsculas: “olha não sei se tenho um furo.”
A remetente era Heloisa de Carvalho, filha de Olavo, e inimiga jurada dele, rompida há anos sob uma montanha de acusações, inclusive a de que o pai é um psicopata. Conhecemo-nos por Whatsapp depois da publicação da matéria - ela tinha gostado, eu tinha algumas curiosidades sobre lacunas que ainda não haviam se encaixado. Havíamos inclusive marcado um café uma vez, mas foi bem no dia em que Olavo começou a me ameaçar veladamente e tive que cancelar, porque precisei ir à delegacia. Seguimos papeando de tempos em tempos, mas nunca havíamos nos encontrado.
A mensagem seguinte veio toda em caixa alta: “MAS TENHO INDÍCIOS.” Sobre o quê? “SOBRE O QUEIROZ”.
“Uau. Quais?”, perguntei.
“Ele está na casa do lado da que eu cuido.”
Obviamente não voltei a dormir. Segui a conversa, fisgado, alimentando com gosto meu desejo ansioso de reconectar no Brasil. Mas disse a ela que eu estava longe, que demoraria a voltar, que não havia muito o que eu poderia fazer com a dica.
No fundo, confesso, não acreditei muito. Parecia meio absurdo que dois núcleos tão distantes da novela que vivíamos se tocassem num bairro residencial de Atibaia. E, embora em minhas conversas com Heloisa ela sempre parecesse uma pessoa racional e coerente, eu já não sabia mais nada. Ela dizia que era espionada pelos seguidores do pai, o que poderia explicar o fato dele ter me atacado justamente no dia em que eu iria encontrá-la. Podia ser verdade, mas… Será? Sendo filha de um paranóico tão dado a ilusões, talvez eu tenha inconscientemente concluído que essas coisas pudessem transmitir em família.
Ontem, quando acharam o Queiroz, escrevi para Heloisa. “Você bem que havia dito que ele estava aí, né?” Ela me contou que deu a dica para vários repórteres, de vários veículos. Nenhum acreditou. Agora acredito: Fabrício Queiroz foi para aquela casa mais de um ano atrás, quando os Bolsonaro ainda juravam que haviam cortado qualquer contato com ele.
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