A maior injustiça que se faz com a luta antirracista é inserir a questão étnico-racial brasileira na pauta "Woke". Além de uma redução do problema, cria-se a falsa ideia de que a dívida histórica da escravidão não passa de uma narrativa que pretende manipular a sociedade, a partir de construções simbólicas, no afã da "troca" de mãos - brancos por negros - no exercício do poder.
O "antiwokismo", enquanto postura refratária à luta antirracista, é elemento constitutivo da "síndrome de Pôncio Pilatos". Ou seja, é mecanismo legitimador do "desengajamento" da luta antirracista como forma de autoabsolvição diante da prática do racismo.
Não há nada de Woke em uma pré-estrutura reivindicatória de compensações e inserções de seres humanos nos espaços de poder a eles negados. O wokismo não pode ser retirado das discussões culturais de revisão simbólico-estética. Ou seja, o "antiwoke" deve se limitar à postura conservadora inicial, sem abrir abas de navegação para além de seu ponto inicial.
A luta antirracista é anterior e substancialmente histórica. O resto é pano de tecido social grosso, umedecido por preconceitos envergonhados, porém existentes. O passado da escravidão, além do presente excludente, nada tem a ver com discussões rasas protagonizadas por movimentos bancados por associações sem compromisso real com pautas históricas.
O movimento Woke, quando inserido no tecido de discussões brasileiras, presta desserviço à pauta antirracista. E os grupos de oposição ao movimento, permeados pelos erros de tal militância, incorrem em lapsos racistas de forma involuntária ou legitimadora de seus preconceitos pré-existentes.
Deixem a luta antirracista de fora de suas brigas infantis. Não é sobre a cor da pele do Homem-Aranha, tampouco sobre a existência de pessoas com nanismo em representações de contos de fadas. É sobre pessoas excluídas, exploradas, violentadas e mortas - única e exclusivamente pela cor de suas peles.
Adriano Viaro
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