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Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2025

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Inquérito da PF mostra que Bolsonaro queria um golpe pior do que 64. Por Pedro Zambarda

As 884 páginas são inacreditáveis

Inquérito da PF mostra que Bolsonaro queria um golpe pior do que 64. Por Pedro Zambarda
Bolsonaro. Foto: AFP/Montagem Pedro Zambarda/Folha Democrata
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Por Pedro Zambarda, editor da Folha Democrata.

Passei a semana lendo o inquérito da Polícia Federal, cujo sigilo foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes. O documento de 884 páginas é provavelmente a melhor investigação técnica da PF em sua história e prova que Jair Bolsonaro queria realizar um golpe de Estado pior do que o da ditadura de 21 anos de 1964.

O golpe foi conduzido pelo general Mario Fernandes no grupo Copa 2022 e seria consumado em 15 de dezembro daquele ano com o assassinato do ministro Moraes. A execução não foi realizada porque o agente de codinome Gana não conseguiu um taxi e os assassinos também chegaram fora do horário do retorno do magistrado até sua casa.

Eles rastrearam toda a trajetória de Alexandre de Moraes em Brasília, mas a sessão no STF naquele dia terminou mais cedo. O presidente eleito Lula e seu vice-presidente, Geraldo Alckmin, seriam mortos envenenados pelos "kids pretos".

Kid preto é um apelido da Força Tática do Exército que seria empregada em massa nesse golpe, uma espécie de SWAT militar, com efetivo que utiliza armamento pesado ou de alta precisão, como rifles de disparo a distância. Esses especialistas seriam utilizados pelo então presidente da República, que convocou a população aos quarteis, para eliminar seus adversários e implementar um GLO, Garantia da Lei e da Ordem, e um Estado de sítio para suspender o Estado Democrático de Direito e as garantias constitucionais.

Bolsonaro tentaria se manter no governo sob a justificativa de que as urnas foram fraudadas, segundo um documento frio financiado por Valdemar da Costa Neto e pago com fundo eleitoral do PL, eliminaria os adversários mais presentes e teria minuta de golpe e discurso pós-golpe para justificar suas ações. Tudo abastecendo o gabinete do ódio e sua comunicação digital na internet.

O plano dos assassinatos dos kids pretos deu errado em 15 de dezembro. Então Bolsonaro decidiu fugir para os Estados Unidos, levando as joias que foram pegas pela Receita Federal, para tentar manipular um golpe à distância. Vitorioso o 8 de janeiro de 2023, ele voltaria ao Brasil já como ditador.

Nada deu certo. E ele ainda se manteve solto, apontam as apurações da PF. Por isso ele deu uma entrevista para a Revista Oeste nesta semana apelando por uma anistia de Moraes e de Lula.

Ele sequer consegue negar as robustas acusações.

Elos com nazismo

O site Diário do Centro do Mundo, o DCM, descobriu que, em uma monografia, general golpista preso cita SS nazista como exemplo para kids pretos. O Exército proibiu o acesso público à monografia escrita pelo general da reserva Mario Fernandes, preso na investigação contra a tentativa de golpe de estado feita pela Polícia Federal. As Forças Armadas chegaram a barrar o acesso do repórter Ítalo Nogueira, da Folha de S.Paulo.

O DCM teve acesso ao documento com ajuda do pesquisador Ananias Oliveira, da UFCG, e o perfil de redes sociais Camarote da República. 

O documento tem um total de 182 páginas. Na página 32, o militar aborda as possibilidades e as limitações do uso de Forças Especiais do Exército Brasileiro. Ele descreve o seguinte: “As características dessas forças em operarem em áreas longínquas e ambientes hostis, com um mínimo de direção e controle, lhes conferem inúmeras possibilidades, dentre as quais se destacam: Proporcionar assessoramento ou instrução a outras forças nas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), num quadro de Seg Int [segurança interna]”.

Na página 53, no emprego “básico” dessas forças, Fernandes traça um histórico das forças especiais, citando exemplo da Alemanha Nazista, além de forças táticas na Guerra do Golfo, do Afeganistão e do Iraque. 

Faz referência à Batalha da Fortaleza Eben-Emael, que ocorreu de 10 a 11 de maio de 1940, no contexto da invasão da Bélgica, dos Países Baixos e da França durante a Segunda Guerra Mundial. As forças belgas enfrentaram os paraquedistas alemães da Luftwaffe, conhecidos como Fallschirmjäger. Os alemães utilizaram uma técnica inovadora, empregando cerca de 500 paraquedistas transportados por planadores para atacar diretamente a fortaleza. Este assalto resultou na captura rápida da fortaleza e na prisão dos soldados belgas que lá estavam.

Também menciona a ação de 12 de setembro de 1943, quando homens da SS nazista, comandados por Otto Skorzeny e a mando de Adolf Hitler, libertaram Benito Mussolini, prisioneiro desde julho em Abruzzo, região no norte da Itália. Conhecido como “Cicatriz” por causa de um ferimento após um duelo de esgrima, Skorzeny virou espião do Mossad após a guerra e morreu refugiado na Espanha do ditador Franco.

A monografia de Fernandes impressiona não só pelos elos com nazismo, naturalizado na história como as forças táticas dos Estados Unidos. O texto assusta por propor uma ação via GLO com kids pretos e forças desse tipo antes da existência dos militares que passaram a vestir esses gorros negros.

E tem muito mais coisa a ser descoberta nesses documentos sobre as monstruosidades bolsonaristas.

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