Publicado originalmente no site PrefiroCuscuz.
Eu escrevi para assustar, para assombrar, para alertar. Quis que as pessoas acordassem, e acho que elas acordaram.
Desde a publicação do artigo, venho recebendo retornos que me reorganizam por dentro. Mas o que mais me impressionou foi descobrir que, para além das críticas, análises e diagnósticos, existe um desejo real de ação. As pessoas querem participar, querem ajudar, querem construir. O que parecia um alerta solitário virou ponto de partida para uma articulação coletiva.
Conheci o pesquisador Jader Gama, que me apresentou a proposta das Plataformas Amazônicas, uma articulação que pensa tecnologias a partir da floresta, conectando mobilização política, saberes tradicionais e soberania digital. Guilherme Flynn, ativista e pesquisador, pensa a comunicação como ferramenta enraizada em estratégia de longo prazo, com atenção ao enraizamento local e à disputa simbólica de longo curso. Ambos me foram apresentados por Uirá Porã, que atua no Felicilab, o Laboratório de Inovação no SUS do Ceará, onde se pensa uma forma de gamificar sem adoecer e que, com o tempo, virou mais que um projeto, virou movimento. Foi também Uirá quem me conectou a dezenas de outras pessoas que hoje compartilham grupos comigo e me ajudam a enxergar o campo da soberania informacional com outros olhos. E Ergon Cugler, com sua atuação firme e generosa, trouxe contribuições valiosas sobre política pública, regulação e imaginário coletivo. Essas pessoas não começaram agora, estão há décadas agindo de forma estratégica em defesa de um Brasil soberano, criativo e possível.
Também recebi apoio de jornalistas e entidades como o FNDC, que acolheu minha voz de maneira profunda. Em especial, preciso agradecer a Sousa Júnior, que não só compartilha minha angústia sobre a soberania informacional, mas também me ofereceu um gesto que não esqueço. Quando eu me sentia constrangida de apresentar um programa com o berço do meu filho no enquadramento, foi ele quem me ajudou a entender que aquele berço também era uma trincheira.
Mas foi Reynaldo Aragon, meu grande amigo, quem me guiou desde o começo. Pesquisador, jornalista e alguém que entende como poucos os códigos da guerra híbrida, foi ele quem me apresentou esse campo de disputa e esteve comigo em cada etapa. Mais que compartilhar inquietações, Rey elaborou uma proposta, desenhou um caminho possível para a luta, e me mostrou que é possível enfrentá-los com inteligência, método e coragem. Com ele, aprendi a ler o que antes me confundia. E foi ao lado dele que descobri que dá para fazer frente ao que parecia inatingível. Esse texto é também fruto dessa caminhada compartilhada.
Depois da publicação, parlamentares me procuraram. A deputada Luizianne Lins foi além. Protocolou uma representação junto à Justiça Eleitoral e à Polícia Federal, denunciando a parceria entre o Partido Liberal e empresas como Meta, Google e CapCut no evento de Fortaleza. Sua iniciativa deu forma institucional ao alerta que lançamos.

O cenário continua ameaçador. A FrenCyber se articula com consistência, a bancada dos likes cresce e se organiza com método, e a última pesquisa Genial Quaest mostra o impacto simbólico da erosão digital. Mesmo com a economia melhorando, a aprovação do presidente Lula caiu entre os mais pobres e os mais jovens, justamente os grupos mais expostos à manipulação algorítmica. As big techs operam hoje como potências políticas transnacionais, capazes de moldar o imaginário e sabotar o voto. O bolsonarismo entendeu isso e está se preparando. O evento em Fortaleza foi só a primeira vitrine.
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